Pular para o conteúdo principal

Postagens

Best of the Beast (1996): a clássica coletânea que congelou a história do Iron Maiden nos anos 1990

Best of the Beast (1996) foi a primeira compilação oficial da carreira do Iron Maiden e surgiu em um momento turbulento para a banda. Bruce Dickinson havia deixado o grupo em 1993, Blaze Bayley assumira os vocais e o álbum The X Factor (1995) dividira opiniões, trazendo uma sonoridade mais sombria e introspectiva. Diante desse cenário, a EMI decidiu lançar uma coletânea que consolidasse o legado já construído, ao mesmo tempo em que apresentava a nova formação ao grande público. O material saiu em diferentes formatos: uma versão simples em CD, CD duplo standard, box em CD duplo e até um box especial com quatro LPs. Essa multiplicidade reforçava a tentativa de alcançar desde o fã casual até o colecionador mais dedicado. Mais do que um “greatest hits”, Best of the Beast funciona como um verdadeiro retrato da trajetória da banda até então, cobrindo desde os primeiros singles com Paul Di’Anno até as composições inéditas gravadas com Blaze. A seleção de músicas é robusta e dá uma visão...
Postagens recentes

A Caminho do Sol, de Helcio de Carvalho: aventuras e lições de uma vida dedicada aos quadrinhos (2025, Mythos Editora)

A Caminho do Sol: Minha Jornada em Busca de Mim Mesmo e Outras Aventuras é um livro singular, pois reúne os dois pontos principais que marcam a vida de seu autor, Helcio de Carvalho: a paixão pelos quadrinhos e a longa trajetória no mercado editorial brasileiro, e a busca incessante por elevação espiritual. Um dos sócios da Mythos Editora, Helcio conta a sua trajetória de forma franca e leve, proporcionando uma experiência de leitura muito agradável. O livro acompanha a trajetória de um garoto simples, apaixonado por gibis e desenho, que sonhava em pilotar aviões e, mais tarde, em ser médico. A vida, no entanto, o conduziu a um caminho inesperado: a Editora Abril. Lá, Helcio começou como colorista, passou a tradutor e se tornou editor de revistas em quadrinhos, organizando de forma pioneira o universo Marvel e DC no Brasil. Com humor e simplicidade, ele revela as histórias pouco conhecidas do mercado editorial: a introdução de artistas brasileiros no exterior, a criação da Mythos ...

Spirits of Ghosts: Act V (2025): a consagração do SoulSpell, a maior metal ópera brasileira

O SoulSpell, projeto de metal operístico criado pelo baterista e compositor Heleno Vale, já tem uma trajetória consolidada como o grande representante brasileiro do formato metal ópera, aquele estilo marcado por narrativas conceituais, múltiplos vocalistas e arranjos grandiosos. Desde o lançamento de A Legacy of Honor (2008), o grupo vem expandindo sua proposta, sempre dialogando com os trabalhos de mestres como Tobias Sammet (Avantasia), Arjen Lucassen (Ayreon) e até as ambições progressivas do Dream Theater. Spirits of Ghosts: Act V , lançado em 2025, representa mais do que apenas um novo capítulo na discografia do grupo: é a obra mais madura do SoulSpell até aqui. Heleno Vale mantém a fórmula de reunir um elenco variado de vocalistas — uma marca registrada que dá ao projeto identidade própria — mas agora tudo soa ainda mais orgânico, com a narrativa fluindo de maneira coesa e sem excessos. A produção também é um ponto alto: pesada, cristalina e moderna, sem perder a dramaticidade...

Menina Infinito: o retrato indie da juventude nos quadrinhos brasileiros (2008, Desiderata)

Publicado em 2008 pela Desiderata, Menina Infinito marcou a estreia de Fábio Lyra em um formato mais longo, depois de experiências em fanzines e coletâneas independentes. O álbum apresenta Mônica e seu grupo de amigos, jovens que atravessam a rotina de shows, mixtapes, blogs e pequenos dramas cotidianos. À primeira vista, é uma HQ sobre juventude, mas, à medida que as páginas avançam, o que se revela é um retrato afetivo e melancólico de uma geração que cresceu à sombra da cultura pop e da cena indie dos anos 2000. O desenho de Lyra é limpo, direto e eficiente — sua economia de linhas transmite intimidade e aproxima o leitor dos personagens. Essa escolha estética torna os dilemas de Mônica mais palpáveis, intensificando a identificação com figuras que poderiam facilmente ser nossos amigos de faculdade ou conhecidos de shows em porões alternativos. A força de Menina Infinito está justamente no modo como captura esse recorte cultural, repleto de referências musicais e da efervescên...

Entre mundos e memórias: Helen of Wyndhorn, de Tom King e Bilquis Evely (2025, Suma)

Publicada em 2024 pela Dark Horse Comics , Helen of Wyndhorn é uma das HQs mais impactantes da fase recente de Tom King . Ao lado da brasileira Bilquis Evely e do colorista Matheus Lopes , King constrói uma obra que dialoga com a tradição da fantasia literária, mas a subverte para discutir temas muito mais íntimos e perturbadores. A protagonista, Helen Cole , é filha de um escritor de fantasia célebre, porém autodestrutivo. Após a morte do pai, ela herda não apenas seu temperamento forte, mas também é levada ao enorme castelo onde vive o avô, em um lugar chamado Wyndhorn , que funciona como portal para um universo paralelo — o mesmo que inspirou os livros do pai. Aos poucos, Helen descobre que esses mundos, antes considerados pura imaginação, são reais, repletos de criaturas, guerras e segredos. Mas, junto com esse legado mágico, vem também o peso de uma herança familiar marcada por dor, manipulação e ausência. É nesse ponto que King mostra sua força. Em vez de entregar uma fanta...

Dia do Julgamento: uma das histórias mais insanas de Juiz Dredd (Garth Ennis, Carlos Ezquerra, 2023, Mythos Editora)

Nos anos 1990, o universo de Juiz Dredd passava por um período de transição. Criado em 1977 por John Wagner e Carlos Ezquerra para a lendária editora inglesa 2000 AD, Dredd se consolidou como um dos maiores ícones dos quadrinhos britânicos. Mas a década seguinte trouxe uma geração nova de roteiristas que cresceu lendo essas histórias e agora assumia o comando. Entre eles estava Garth Ennis, um irlandês em ascensão que logo se tornaria conhecido por trabalhos como Preacher e The Boys . Dia do Julgamento , publicado em 1992, tem como ponto de partida a volta de Sabbat, um necromago vindo do futuro que decide provar seu poder invocando hordas de mortos-vivos para tomar a Terra. A ameaça é tão absurda que obriga Dredd a unir forças com Johnny Alpha, protagonista de Strontium Dog , além de envolver diferentes blocos urbanos espalhados pelo planeta. A influência do cinema de terror e dos filmes de zumbi é clara – Ennis sempre foi fã assumido de George Romero, e isso se traduz aqui no cl...

Nightwish com Anette Olzon: a fase mais criativa da banda

O Nightwish construiu sua reputação como um dos maiores nomes do metal sinfônico graças a sua capacidade de unir peso, melodias épicas e grandiosidade orquestral. Durante boa parte de sua carreira, os holofotes recaíram sobre a fase com Tarja Turunen, a soprano original, ou sobre a atual etapa ao lado de Floor Jansen. Porém, há um recorte específico na discografia que merece atenção especial: os dois discos gravados com a sueca Anette Olzon — Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011). Longe de serem apenas capítulos de transição, esses álbuns podem ser considerados os melhores trabalhos já lançados pelo grupo. Após a conturbada saída de Tarja em 2005, o Nightwish estava sob intensa pressão: precisavam provar que eram maiores do que uma vocalista icônica. Dark Passion Play nasceu desse contexto, carregado de emoção e urgência. O álbum abre com a monumental “The Poet and the Pendulum”, uma das composições mais ambiciosas de Tuomas Holopainen, que traduz em música a dor e a supera...

New Jersey (1988): o clássico do hair metal que levou o Bon Jovi ao topo do mundo

Depois do sucesso estrondoso de Slippery When Wet (1986), o Bon Jovi se viu diante de uma pressão imensa: como repetir – ou até superar – um álbum que havia redefinido as fronteiras entre o hard rock e o pop nos anos 1980? A resposta veio em 1988 com New Jersey , disco que consolidou a banda como um dos maiores fenômenos do rock de arena. Produzido novamente por Bruce Fairbairn, o álbum nasceu da necessidade de mostrar que Jon Bon Jovi e Richie Sambora não eram apenas um sucesso passageiro. O título, uma homenagem ao estado natal da banda, traz consigo o espírito trabalhador, a atitude e a perseverança que moldaram a identidade do grupo. Musicalmente, New Jersey segue a fórmula vencedora de seu antecessor: refrões explosivos, riffs acessíveis e baladas construídas para dominar o rádio e as arenas. A diferença está na ambição. O álbum é mais longo, com 12 faixas na versão original. O Bon Jovi queria provar que tinha fôlego de sobra – e conseguiu. Logo na abertura, “Lay Your Hand...

Paranoid (1970): o álbum em que o Black Sabbath definiu o heavy metal

Em 1970, o Black Sabbath já tinha mudado o jogo com o álbum de estreia. Sete meses depois, a banda voltou com Paranoid , um disco que não apenas consolidou o heavy metal como estilo, mas também redefiniu os limites do rock pesado. Gravado em apenas alguns dias em dois estúdios de Londres, o álbum é fruto de urgência criativa, energia crua e um entrosamento quase telepático entre os quatro integrantes. A Inglaterra do fim dos anos 1960 ainda lidava com os ecos da guerra, enquanto a juventude hippie via seus sonhos desmoronarem diante de uma realidade mais dura. O Black Sabbath absorveu esse clima sombrio e o traduziu em riffs pesados, letras sobre alienação, insanidade, paranoia e destruição. A influência do blues ainda é perceptível, mas aqui ele aparece distorcido, acelerado e mais agressivo. Paranoid abre com “War Pigs”, um manifesto contra a guerra do Vietnã e a manipulação política, onde Tony Iommi cria um dos riffs mais emblemáticos da história. A faixa-título, escrita às pre...

Helloween reafirma seu legado e surpreende com um álbum sólido e inspirado em Giants & Monsters (2025)

Vamos ser sinceros: a reunião do Helloween, anunciada em 2016, tem muito mais impacto e importância enquanto show ao vivo e celebração do legado de uma das maiores bandas de metal da história do que propriamente relevância artística. Isso ficou claro no álbum autointitulado de 2021. Embora não tenha decepcionado, também não foi a oitava maravilha do mundo. E, convenhamos, ninguém espera que o Helloween, em pleno 2025, revolucione o gênero como quando inventou o power metal com Kai Hansen e Michael Kiske, se reinvente como fez com Andi Deris nos anos 1990, ou experimente como em Better Than Raw (1998) e The Dark Ride (2000). Esse tempo já passou, e os próprios fãs não querem novidades – ninguém vai a um show do septeto esperando músicas inéditas, sejamos francos. Mas aí veio Giants & Monsters , lançado no final de agosto, e a sensação é de surpresa. Talvez o impacto venha justamente da expectativa baixa em torno do segundo álbum de inéditas após a reunião, mas o fato é que o dis...